Palavra do momento – “Caixa”!

Palavra do momento – “Caixa”!

Todos estão falando em Fluxo de Caixa, mas será que todos entendem o significado disso? Assunto corriqueiro, mas objeto de dúvidas de muita gente!

Tenho percebido algumas confusões sobre o tema, então decidi escrever uma explicação resumida, da forma mais didática possível, sobre os principais termos contábeis envolvidos e algumas sugestões práticas de ações para enfrentar esta tempestade. Vamos às definições!

Caixa = recursos disponíveis IMEDIATAMENTE, seja em espécie ou em banco (em conta corrente ou em aplicações financeiras com liquidez imediata). Não compõe o Caixa nenhum outro item do ativo. Contas a receber, estoque, despesas antecipadas, juntamente com o próprio Caixa, pertencem ao Ativo Circulante (definido mais
abaixo).

Ativo Circulante = grupo de contas que registra as disponibilidades de recursos em curto prazo (dentro do próprio ano contábil): incluindo o próprio Caixa, títulos negociáveis (duplicatas a receber, por exemplo), estoques e outros.

Passivo Circulante = são as dívidas e obrigações que possuem um prazo de
vencimento de até 12 meses, como, por exemplo, contas a pagar, despesas
provisionadas, salários, dívidas de curto prazo e etc.

Capital de Giro = a diferença entre os recursos disponíveis em caixa e a soma das despesas e contas a pagar (de curto prazo).

É necessário um planejamento cuidadoso, tanto do Fluxo de caixa projetado, quanto do Capital de Giro necessário no curto, médio e longo prazo para, então, atuar fortemente nas Contas Circulantes. Afinal, a necessidade de caixa é uma premência para a empresa em momento de crise e fora dela.

A forma mais rápida e eficiente de se alavancar o Caixa é atuando nas Contas Circulantes do Balanço Patrimonial : Ativo e Passivo Circulante.

Algumas sugestões de ações imediatas:

Para o Passivo Circulante:
⁃ Negociar alongamento de prazos de pagamento com fornecedores (desde que não os sufoque). Outra alternativa seria buscar opções de financiamento bancário para os fornecedores, caso você tenha maior/melhor relacionamento com a rede bancária.

Dependendo da situação de cada empresa, pode ser necessário ranquear os fornecedores em ordem de essencialidade à sobrevivência do negócio. Os essenciais deverão ter um tratamento diferenciado. Lembrando que precisamos manter a cadeia de valor do negócio viva.

⁃ Analisar, individualmente, para cada colaborador, a real necessidade daquela mão de obra neste momento e, então, avaliar qual o benefício adequado para cada situação entre as recentes Medidas Provisórias (MP´s) publicadas pelo Governo, objetivando, se possível, manter os empregos.
Muitas vezes, o custo alternativo para encontrar bons profissionais, treiná-los e integrá-los à cultura e valores da empresa pode ser muito mais alto. As mencionadas MP’s preveem uma redução significativa nos impactos da folha na empresa, desde que bem analisadas e implementadas. Se possível, consulte um advogado trabalhista de sua confiança para evitar transtornos no futuro. Importante lembrar, ainda, que a improdutividade continua justificando demissões! (responsabilidade social sim, mas, como tudo, com razoabilidade – preservamos os bons profissionais agora e sempre).

⁃ Alongar dívidas bancárias (ATENÇÃO ESPECIAL AQUI *);

⁃ Diferir tributos, de acordo com as orientações do Governo.          

Para o Ativo Circulante:

⁃ Acelerar a venda do estoque disponível através de promoções ou outras ações;

⁃ Melhorar ações de cobrança, com reduções de juros e multas, repactuações e etc – buscando manter o cliente ativo;

⁃ Acelerar a velocidade de pagamento de clientes, praticando descontos para pagamento à vista, por exemplo;

⁃ Obter crédito bancário, se possível de longo prazo (ATENÇÃO ESPECIAL AQUI *).
(*) Recomendo que quaisquer alongamentos de dívidas ou obtenção de novos créditos seja avaliado por pessoas com experiência para evitar sufoco no futuro.

Tendo em vista estarmos todos atravessando este momento delicado, é muito importante analisar a real necessidade e o timing de se gerar o caixa adicional por meio das medidas acima sugeridas, especialmente no que se refere ao Passivo Circulante.

Essa ação vai envolver a movimentação de todos os steakholders e, precisamos lembrar que todo plano de “guerra” tem um custo alto e terá que ser pago em algum momento.

Segue uma valiosa dica para as pequenas empresas: quem não possui um sistema informatizado de gestão (ERP) deve fazer um controle muito rígido de todas as movimentações atípicas neste momento, principalmente, as postergações de pagamentos. Dívidas alongadas TAMBÉM terão que ser pagas!

Por fim, e muito importante: virão solicitações de postergação de pagamento dos clientes (precisamos estar atentos a isso quando projetarmos o Fluxo de Caixa).

O que fazer, por exemplo, se o cliente não tem condições de pagar as faturas atuais e ainda está demandando mais serviços ou produtos? Dependendo do ponto de vista, poderíamos entender que este cliente está prejudicando o caixa duplamente – não pagando e ainda diminuindo os estoques.  

Não veja as coisas dessa forma: invista no cliente! Esta crise é por tempo determinado e o relacionamento com o cliente deve ser por tempo INDETERMINADO! É lógico que precisamos olhar com lupa caso a caso e manter firmes nossas regras de compliance e governança sempre. Porém, não podemos vilipendiar a razão de nossa existência – O CLIENTE.

Renegocie, busque as melhores soluções (ou menos piores) para ambos e lembre-se: você vai vivenciar os dois lados da mesa de negociação em algum momento dessa crise.